Publicado por Elias Santana em 1 de junho de 2022.

Olá, meus queridos! Tudo bem? Sei que, se você chegou até este post, certamente quer interpor recurso às questões da prova do TJDFT 2022. Todavia, antes de irmos a eles, leia com ATENÇÃO o que vou dizer a seguir: o que vou fazer é apresentar DIRETRIZES, EMBASAMENTOS e INSTRUÇÕES para que VOCÊ elabore o seu próprio recurso! Se você apenas copiar o que vou dizer e colar na página da FGV, garanto que não só não será deferido, como também você jogará todo o meu trabalho no lixo, já que as bancas costumam invalidar recursos idênticos. Peço, portanto, responsabilidade. Não seja preguiçoso, já que o maior interessado aqui é você. Ok?

Mais um detalhe: como são provas diferentes, com numerações diferentes e alternativas em ordens distintas, colocarei, em cada recurso, o trecho que inicia a questão e o texto das alternativas. Sua missão também será adaptar o texto a seguir ao seu tipo de prova.

PROVA DE TÉCNICO (três recursos)

Questão “os homens prudentes, pelos casos passados e pelos presentes…” (ambiguidade)

Objetivo: anulação da questão.

Embasamento:

Três alternativas poderiam ser a resposta, já que são ambíguas. Na alternativa “a ironia é uma tristeza que não pode chorar e rir”, nada impede que semanticamente a oração subordinada adjetiva restritiva “que não pode chorar e rir” refira-se tanto ao vocábulo “ironia” quanto ao vocábulo “tristeza”, sobretudo porque esses dois substantivos fazem parte do mesmo campo semântico (sentimentos ou sensações humanas). É possível deprender tanto que a ironia [que não pode chorar e rir] é uma tristeza quanto a ironia é uma tristeza, e essa tristeza [não pode chorar e rir]. Se fossem campos semânticos diferentes (por exemplo, pessoa e sentimento) ou houvesse algum marcador de concordância, não haveria ambiguidade. Segundo CANÇADO (2005, p.69), trata-se de uma ambiguidade sintática.

Na alternativa “o covarde e o corajoso mostram o seu medo”, segundo CANÇADO (2005, p.72), há um caso de ambiguidade semântica, uma vez que o pronome possessivo “seu” pode ter referência anafórica ou dêitica. Para tanto, a autora faz a seguinte redação:

Em “José falou com seu irmão?”, podemos entender que o falarte quer saber se o José falou com o irmão de José, uma ligação anafórica; ou se foi com o irmão de quem escuta a pergunta, tratando-se, portanto, essa última de uma ligação dêitica.

Para desfazer a ambiguidade gerada pelo pronome possessivo (tanto no caso da alternativa da prova quanto no no exemplo de CANÇADO (2005, p.72), é necessário que ambos os trechos estejam inseridos em um texto que comprovaria qual semântica é a pretendida pelo autor; todavia, por se tratarem de frases isoladas, a ambiguidade é patente.

Por fim, na alternativa “eu achei que estava errado uma vez estava mesmo errado”, há um caso de ambiguidade sintática, porque é possível comprender tanto que “eu achei que estava errado uma vez, MAS estava mesmo errado” ou “eu achei que estava errado uma vez e QUE estava mesmo errado”. No primeiro caso, a informação da terceira oração funciona como uma coordenação adversativa; no segundo, a terceira oração, apesar da coordenação aditiva com a segunda, é também vista como um segundo complemento direto da forma verbal “achei”. A ratificação bibliográfica é a mesma apresentada para a alternativa “a ironia é uma tristeza que não pode chorar e rir”.


Questão “o filósofo francês Pascal afirmou que…”

Objetivo: anulação da questão.

Embasamento:

As alternativas “o esclarecimento sobre como atua a imaginação” e “uma explicação dos termos da parte anterior” são todas plausíveis e aplicáveis ao texto posposto aos dois pontos no enunciado. A primeira é verdadeira, uma vez que que o verbo “atuar” apresenta semelhança semântica com o verbo “fazer”, e, se os poderes da imaginação estão associados a fazer “fazer a beleza e a felicidade”, logo ela atua como uma fabricante da beleza e da felicidade. A segunda também é verdade, visto que o que está depois dos dois pontos serve como explicação ou justificativa para os termos antepostos aos dois pontos.

Todavia, alternativa indicada como correta pela banca (“uma enumeração dos poderes da imaginação”) é inválida, já que, segundo o texto de Pascal, a imaginação só possui um poder: fazer “a beleza, a justiça e a felicidade”. Segundo o dicionário Houaiss, poder é a “possibilidade de fazer certas coisas; capacidade, faculdade”. Portanto, poder é ação, e, no texto só há uma: fazer. Se o texto fosse, por exemplo “a imaginação tem todos os poderes: ela faz a beleza, a justiça e a felicidade E MATERIALIZA MENTALMENTE O QUE NÃO É FÍSICO”, haveria dois poderes: fazer e materializar. Como há apenas uma ação, trata-se de um único poder. O texto de Pascal não contempla o significado denotativo de poder, e não há contexto que nos permita um entendimento conotativo.


Questão “aquele que não sabe aproveitar a sorte…”

Objetivo: alteração do gabarito.

A alternativa “a sorte sempre passa para os que perdem oportunidades” é uma extrapolação diante do que o texto “aquele que não sabe aproveitar a sorte quando ela vem não deve se queixar quando ela passa”. Primeiramente, é preciso observar que o texto fala de um tipo de indivíduo: “aquele que não sabe aproveitar a sorte”. Todavia, conforme o texto, nada impede que a sorte passe para aqueles que a aproveitam; em outras palavras, alguém está com sorte, aproveita-a quando ela vem, mas nada no texto indica que ela vem e permanece. Diferentemente disso, quem aproveita a sorte quando ela vem pode, em seguida, deixar de tê-la. Além disso, a segunda oração temporal do texto limita a ação de queixar, já que ela só aconteceria quando a sorte passa; não há textualmente, no entanto, a garantia de que a sorte passe para aqueles que não a sabem aproveitar, ou seja, a sorte pode sempre acompanhar alguém que simplesmente nunca a aproveita; portanto, nem sempre a sorte passa para quem perde oportunidades. O vocábulo “sempre” da alternativa vai de encontro às orações temporais do texto do enunciado.

Já a alternativa “algumas pessoas vivem queixando-se da sorte” contempla melhor o que o texto expressa, já que algumas pessoas (aquelas que não sabem aproveitar a sorte quando ela vem), queixam-se dela, a despeito de não dever fazê-lo. O modalizador “dever” empregado no texto nos permite inferir que algumas pessoas queixam-se da sorte, mesmo que isso seja indevido, pois não a aproveitou quando ela estava presente.

PROVA DE ANALISTA (um recurso)

Questão “a justiça é consciência, não uma consciência pessoal…”

Objetivo: anulação da questão.

Nenhuma das alternativas atende ao texto e ao enunciado. A que foi indicada como gabarito não é plausível. Primeiramente, é preciso observar que o segundo período não é uma consequência do primeiro, e sim uma conclusão. O elaborador poderia se valer do argumento de que, no item, o que está dito não é “consequência”, e sim “espécie de consequência”; todavia, a vagueza da informação “espécie de” permite análises diversas, o que com que a a alternativa em questão não seja uma resposta objetiva, e sim subjetiva, o que fere o princípio elementar de uma prova cujo objetivo é mensurar precisamente os conhecimentos de um candidato. Talvez, se o examinador falasse em “possível consequência”, e não em “espécie de consequência”, a alternativa seria mais assertiva. Ademais, o segundo período não apresenta uma ampliação do texto, e sim uma particularização da informação do primeiro período, já que “aqueles que reconhecem claramente a voz de suas próprias consciências” representa um caso, um exemplo, dda informação dada pelo primeiro período. O primeiro período é que possui a informação mais ampla, ao passo que o segundo, mais específica.