Simulado SEDF!
Olá, meus amigos e minhas amigas! Como vocês estão?
Criei para vocês um minissimulado para o concurso da SEDF. São cinco questões concebidas em um formato gameficado, ou seja, você irá literalmente JOGAR enquanto adquire conhecimentos fundamentais à sua prova!
Vamos lá? O jogo está logo abaixo!
Recurso PPDF
Olá, queridos! Tudo bem?
Primeiramente, claro, preciso destacar o bom desempenho do Instituto AOCP na elaboração da prova de português da PPDF. Todas as questões são boas e compatíveis com o gabarito, exceto uma.
Exatamente isso que você acabou de ler: só uma das questões permite a interposição de recurso, não com objetivo de anulá-la, mas alterar o gabarito (de errado para certo). Trata-se da questão 15 da prova 1, também conhecida como “a questão do pronome reflexivo”.
Nunca é demais lembrar que, se você simplesmente pegar o meu texto e colar na página do Instituto AOCP, nosso esforço será perdido e você jogará o meu trabalho no mato. Sua missão, jovem Padawan, é pegar o texto a seguir e reescrevê-lo, parafraseá-lo. Aquilo que é técnico, claro, será mantido, mas a composição textual deve ser alterada.
Por fim, um adendo: para chegar ao recurso, é necessário não só aceitar passivamente o gabarito da banca, mas também fazer uma pesquisa contrastiva entre os cânones da língua. Usar somente a definição apresentada para o verbo “reconhecer” no Dicionário de Regência Verbal de Luft – uma das obras de referência do que vem a seguir – sem nem comparar verbos distintos ou não buscar outros suportes gramaticiais significa ser conivente com o vacilo indubitável do Instituto AOCP nessa questão. Entendo que, no mundo dos concursos, nem sempre as bancas acatam aquilo que é correto (e isso é frustrante); todavia, o trabalho do linguista é saber quais ferramentas acessar e como manuseá-las.
Dito isso, vamos ao recurso:
Questão 15 – prova 1 – alteração de gabarito:
É necessário solicitar à banca a alteração de gabarito, de certo para errado, uma vez que o pronome SE em “se reconhece” funciona como um pronome reflexivo, e não como uma parte integrante do verbo. Para defender esse posicionamento, apresento os seguintes argumentos:
1. Segundo CUNHA (2008, p.421) a voz reflexiva ocorre quando “um verbo vem acompanhado de um pronome oblíquo que lhe serve de objeto direto […] e representa a mesma pessoa do sujeito”. Como exemplo, o autor usa “eu me lavo”. É importante observar que o verbo lavar em questão é semanticamente idêntico a “eu lavo pés”. A grande diferença é que, neste caso, a ação de lavar recai sobre um objeto diferente do sujeito, ao passo que naquela a ação recai sobre um objeto que tem como referente o próprio sujeito.
Para efeitos comparativos, é válido colocar os dois exemplos acima citados na terceira pessoa do singular, para que o pronome SE apareça – e seja ainda mais perceptível tudo o que foi explicado antes:
(1) Ele se lavou.
(2) Ele lavou os pés.
Vamos agora estabelecer uma análise contrastiva entre o trecho usado pelo Instituto AOCP e outro exemplo:
(3) “Fallon agora se reconhece como psicopata.”
(4) Fallon agora reconhece o pai como um psicopata.
Nos dois casos, ocorre o que foi explicado anteriormente: o verbo “reconhecer” possui a mesma semântica nas duas construções (o mesmo que identificar, segundo o Houaiss). Em 3, a ocorrência do pronome SE mostra que a ação de reconhecer recai sobre um objeto cujo referente é o próprio sujeito; em 4, a ação recai sobre um objeto diferente do sujeito.
No dicionário de regência verbal, LUFT (2008), o verbo “reconhecer” aparece, na acepção 5, acompanhado pelo pronome SE como VTDp, em que ele cita inclusive “reconhecer a própria imagem”, em que o “própria” ratifica o valor reflexivo da construção. Já na acepção 1, o sentido do verbo é o mesmo, mas com a ação direcionada a um objeto que não remete ao sujeito.
Para efeitos comparativos, o mesmo LUFT(2008), acerca do verbo “lavar”, o mesmo: a ação pode ser direcionada a um objeto que não se refere ao sujeito e também a um objeto que se refere ao sujeito, sem alteração semântica do verbo. Cabe ressaltar também que o mesmo dicionarista, em verbos que são essencialmente pronominais, destaca de imediato que o único uso deve ser acompanhado do pronome (como suicidar-se ou queixar-se); nos casos de verbos acidentalmente pronominais, ele ou os diferencia pela semântica ou pela sintaxe de regência (debater/debater-se).
Retornando ao CUNHA (2008, p.422), vale a pena destacar o que ele fala sobre a diferença entre um verbo pronominal e um verbo na voz reflexiva: “muitos verbos são conjugados com pronomes, à semelhança dos reflexivos, sem que tenham exatamente o seu sentido. São os chamados verbos pronominais.
A fim de ratificar o que foi dito, BECHARA (2009, p.223) diz: “com verbos como atrever-se, queixar-se, ufanar-se, admirar-se, não se percebe mais a ação rigorosamente reflexa, mas a indicação de que a pessoas a que o verbo se refere está vivamente afetada”. Em outras palavras, a ausência de reflexividade ocorre porque a ação refere-se ao próprio sujeito em razão da semântica já expressa pelo verbo (que atualmente é dotado obrigatoriamente do pronome oblíquo), e não pela ocorrência ou não do pronome. O que Bechara define nesse excerto são os casos em que o pronome faz parte do verbo, operando como uma parte integrante do verbo. Tal situação não acomete a oração “Fallon agora se reconhece como psicopata”.
Portanto, para que um verbo seja classificado como pronominal (no caso da questão, acidentalmente pronominal), seria necessário que a semântica ou a sintaxe de regência de reconhecer fosse diferente de reconhecer-se, o que não ocorre. Com toda essa análise, é patente concluir que, em “Fallon agora se reconhece como psicopata”, o pronome SE empregado é reflexivo, e não uma parte integrante do verbo.
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Agora, como diria Capitão Planeta, “o poder é de vocês”. Até dia 10 de julho de 2022, a banca receberá recursos relacionados à prova da PPDF.
Beijos!